Confissões de uma Paciente
Nos últimos três anos, atravessei grandes adversidades. Submetida a duas cirurgias na coluna e uma internação devido à Covid, agravada por comorbidade.
Agora, desfrutando de momentos de calmaria, desejo revelar os segredos que residem na alma de um paciente.
Na minha condição de psicopedagoga e psicanalista, compreendo que um enfermo deposita no profissional a esperança de solucionar seu problema. No entanto, enquanto paciente, guardo sentimentos inconfessáveis, observadores inerentes à condição humana.
Ao colocarmos nossa vida nas mãos de outra pessoa, a razão nos orienta: "fazemos isso porque o profissional conhece e domina todo o procedimento, nele depositamos confiança e acreditamos que tudo está seguro e sob o controle do Criador".
No entanto, o coração é um traidor. Dirigimos nossas preces a Deus, suplicando que, no momento crucial, não tenha causado nenhum imprevisto, que o coração não acelere, que a pressão não se altere, que o médico não espirre, que sua mão não escape por um breve instante.
E, no último suspiro antes da inconsciência, entregamos nossa alma a Deus, lamentando pelos beijos não dados, pelo amor não demonstrado, pelos sorrisos economizados.
Claro que comigo não foi diferente. Sou humana e falível.
Seis horas após o primeiro inconsciente, um anjo, provavelmente o cirurgião, o melhor entre os melhores, diz: "Mova os pés". Eu os movi, sinto minha alma envolvida pelo Criador e volto a dormir pensando: Ele fez o melhor possível, tudo correu bem e Deus cuidou de nós.
Quando, finalmente, me reabilitei, dois anos após a cirurgia na região lombar, submeti-me a uma cirurgia cervical. E lá fui eu recomeçar todo o processo.
Nos infindáveis meses de cama, aguardando as cirurgias, durante o processo e no período de recuperação, vivenciei um grande aprendizado.
Aprendi a controlar minha ansiedade, entregando-a nas mãos do Criador e esperar. Realizei meu culto particular a Deus e aproveitei de Seu cuidado.
Aprendi que nos momentos de maior dificuldade, Deus levantará um exército de orações para clamar por minha vida, com meu pastor à frente.
Aprendi que depender de alguém para me vestir não é o fim do mundo e pode se transformar em momentos de risos e muito amor.
Aprendi que voltamos a ser bebês quando sentimos os cuidados da mãe, que, mesmo esquecendo de si mesma e de sua idade, nos oferece o seu melhor.
Que o mundo pode se esquecer da nossa dor, mas a nossa família estará aqui, unida, transformando seu quarto em uma sala de jantar, repleta de risos e emoções.
Aprendi que os amigos distantes são tão próximos e queridos, preocupando-se com o meu bem-estar, quanto os amigos próximos.
Aprendi que os cabelos caem, obrigando a nos despedir das longas madeixas, mas outros fios nascem, renovando a esperança em dias melhores.
Aprendi que a vida segue seu curso, que meu jardim floresce e que o sol baterá em minha janela, independentemente do meu sorriso. Portanto, vamos sorrir.
A noite passará, virá o dia...
O curso seguirá nova historia
Novos sonhos, nova melodia...
Afinal, grande é a vitória.
O silêncio que outrora amigo
Dará lugar à liberdade e ação
Onde havia dor e perigo
Alegria brindará a estação
Há dias de riso, há dias de dor
Mas em todos existe a fé
Emoldurando meu coração.